segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Como Me Tornei Vegetariano

Algum tempo atrás, alguém me pediu para que eu contasse como me tornei vegetariano, como o processo aconteceu. Prometi fazer. Demorou um pouco, mas aqui está.

Antes de começar a mudança, preciso contar como eu era. Muita gente diz que eu não devia gostar muito de carne. E isso não é verdade. Na minha casa podia faltar qualquer coisa, menos carne. O padrão era eu comer feijão, arroz, bife e talvez mais alguma coisa. Nos finais de semana, meu pai preparava macarronada com frango, também conhecido como galinasso. E eu comia sempre coxa e entrecoxa.

Se minha mãe fizesse frango ou peixe mais de duas vezes na semana, eu reclamava, queria carne bovina. Durante a noite, hamburguer, pizza ou feijão arroz e bife, para variar. As vezes minha mãe fazia algumas outras coisas. Fato era que eu não conseguia imaginar um prato de comida, sem um filé. Nem passava isso pela minha cabeça.

Era do tipo que ia a churrasco para comer carne mau passada e coração de galinha. Nada de acompanhamentos, só carne. Tinha que ser mau passada. Queria carne macia e não carvão. Nada de costela ou gordura, queria picanha, contra filé e coisas assim. Coxa de galinha também era muito bem vinda. Quando podia ir a uma churrascaria comemorar algo, eu ia. O churrasco só perdia para rodízio de pizza.

Na época, eu estudava algumas filosofias orientais, como o budismo e gostava muito. Lendo, percebi que minha alimentação estava errada e teria que mudar um dia, mas estava disposto a postergar esse dia ao máximo. Próximo da época em que me tornei vegetariano, eu já comia menos carne. Nos churrascos, passei a comer as outras comidas e não só carne. Já comia mais frango durante a semana. Peixe sempre foi raridade. E comecei a comer mais salada também. Isso foi algo natural, que eu só percebi depois, quando refleti sobre o assunto.

Reencontrei uma antiga namorada, que hoje é minha esposa. E descobri que ela havia se tornado vegetariana. Achei engraçado e curioso. Ela sempre respeitou o fato de eu comer carne como opção minha, mas começamos a assistir filmes e documentários relacionados ao consumo de carne. A Carne é Fraca e Terráqueos são apenas dois deles, que são muito úteis. Comecei a perceber que os animais sofriam muito mais do que eu escolhia imaginar, que a violência na produção de carne é ridículamente alta e não tem como ser evitada. Não existe abate humanitário sem que a carne seja contaminada. Eu ainda tinha ideia da criação de gado livre, mas a realidade atual é o confinamento. Aos poucos, fui ficando com nojo de tudo isso. E para mim, o que mais pesou foi o seguinte: Eu não gosto de sofrer, não gosto de sentir dor, porque entào eu deveria ser responsável pelo dor de outro ser vivo que eu sei que tem um sistema nervoso como o meu?

Quando começamos a pensar em fazer aos outros somente aquilo que gostariamos que fosse feito conosco, as coisas começam a mudar. E foi aí que eu comecei.

Sabia que não mudaria da noite para o dia, mudanças radicais não funcionam. A primeira coisa que fiz foi cortar os bifes. Sem bife nas refeições e ponto final. Nem boi, nem frango. Eu só comia pexei em sushis e como é caro, não me preocupei com isso.

Quando fiz meu primeiro prato sem carne foi muito estranho. Tinha a sensação que estava faltando alguma coisa. O prato não estava completo. Nem a minha alimentação. Acabei colocando outras coisas no prato para compensar. E aos poucos fui melhorando a qualidade da salada que comia. Hoje, quando almoço no trabalho, mais da metade do prato é salada e bem variada.

No jantar, ainda comia hamburgueres, salsichas, pizzas com carne e salgadinhos diversos. Fui removendo um de cada vez. Troquei os hamburgueres e salsichas pelos equivalentes, mas feitos de soja, que são bem mais caros, é verdade. Recomendo as marcas Sadia e Superbom.

Eu notei algumas mudanças. Primeiro, comecei a ganhar peso, porque a mudança imediata foi substituir a carne por massa. Principalmente pão e queijo, mas depois resolvi esse problema. Além disso, notei que costumava me sentir mais bem disposto e não só transpirava menos, como meu suor fedia menos. Não tenho nada científico para apoiar isso, mas parece ter acontecido comigo. Nada impede que seja apenas uma coincidência.

Depois de alguns meses, veio o maior desafio: parar de comer pizzas de frango com catupiry, pizza portuguesa nunca mais e tantas outras que eu comia em todos os rodízios de pizza. Isso era praticamente impossível, mas eu fiz. Quando pedia pelo telepizza, não pedia com nada que tivesse carne. Quando comprava no mercado, a mesma coisa. Depois de um tempo, o grande momento: o rodízio. Escolhi um dia e tomei coragem. Falei pro garçon que estava nos servindo que eu não comia carne, que queria pizzas sem carne e assim foi. Tudo tem que começar um dia.

Por último, retirei os salgadinhos de festa e salgados na rua. Sem coxinha de buteco, sem enroladinho de queijo e presunto. Confesso que as vezes, em uma festa, acabo engolindo algum, mesmo porque, quem faz o teste para ver se são de carne ou não, sou eu. Minha esposa espera eu testar para comer.

Não tenho problema nenhum em comer a carne em sí. Se eu estivesse em uma floresta e uma arvore caísse e matasse um animal, eu poderia comê-lo em um churrasco sem problemas. Gosto de carne, mas parei de comer unicamente pelo sofrimento imposto aos seres vivos para que essa carne seja produzida.

Se os cientistas conseguissem sintetizar um bife em laboratório, com igual constituição, seria muito bom, mas a realidade é outra.

O processo foi lento e gradual. Eu ainda como derivados de animais como queijo e leite, por isso nunca precisei me preocupar em tomar qualquer suplemento ou vitamina B12. De lá para cá, passaram 5 anos e já fiz dois exames de sangue completos, que se mostraram perfeitamente normais.

Eu sei que uma alimentação rica em vegetais elimina a necessidade de suplementos e vitaminas, porque minha sogra tem 70 anos, é vegetariana e nem esteoporose ela tem, mas ela come tudo que nasce da terra em todas as cores possíveis e imagináveis. Sempre brinco dizendo que ela não tem paladar. Porque não consigo comer um décimo daquelas coisas.

Se você vai se tornar vegatariano, não basta remover a carne. É preciso substití-la por outras coisas, se não, você terá problemasde saúde.

Por último, ainda pretendo me tornar vegano e apoio todos aqueles que já o fazem, mas ainda não estou tão desapegado do meu paladar a este ponto. Seguindo a linha de pensamento que me tornou vegatariano, o correto é me tornar vegano.

Um comentário:

Ana Carolina disse...

Muito legal esse relato!
Sou vegetariana a quase um ano; Na verdade comigo foi bem de um dia para o outro mesmo, Tinha acabado de voltar de viagem e comecei a ler uma reportagem de uma revista (referentes a devastação que a pecuária causa e tudo mais) parei um momento pensando sobre aquilo e desde dali parei...depois é claro acabei vendo alguns vídeos e lendo outras coisas que só reforçaram minha ideia!
Esse negócio de salgadinhos é um pequeno problema comigo tb, acabo tendo que esperar alguém comer até achar os de espinafre, palmito entre outros.

Também quero me tornar vegana, na verdade meio que já comecei a substituir o leite pelo leite de aveia (feito em casa) e até agora tem dado certo! Alem de ser mais barato que o de soja! =)

Sobre substituir a carne, bem eu acho que não tem porque substituir algo que, no geral, não faz bem! Muitos já usaram esse argumento comigo “mas se eu parar com a carne vou comer o que no lugar?!” Nada criatura! você não precisa da carne, uma alimentação balanceada já é rica em proteína e em todo o resto, o suficiente! rsrs Mesmo sendo proteína vegetal que demora mais para o corpo 'absorver' e tal...
Claro que a b12 acaba sendo a exceção a isso, mas todo o resto encontramos numa alimentação bem comum até do brasileiro. Na verdade pelo que pesquisei comendo soja de duas a três vezes por semana já estaria perfeito!
Parabéns pelo blog! Tem bastante coisa interessante para se ler!
Abraços

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